OBRIGADO PELA VISITA E VOLTEM SEMPRE portugal 2.BMP JAMS BLOG: Seca obriga câmaras a gastar milhões

domingo, julho 17, 2005

Seca obriga câmaras a gastar milhões


Seca obriga câmaras a gastar milhões em abastecimento
A chegada da chuva não resolverá a crise. Solos áridos e dívidas permanecerão no
futuro. Ministros do Interior e da Justiça europeus, sob a liderança do britânico Charles Clarke, discutiram em Bruxelas a melhor forma de reagir aos atentados terroristas de Londres Autarquias fazem esforços financeiros e humanos enormes para garantir que a água não falhe no abastecimento doméstico das suas populações Não há memória de uma situação assim tão grave, lamentam os mais idosos. Os autarcas alertam a população os tempos difíceis estão para ficar Já há 39 municípios onde é necessário abastecer as pessoas com autotanques. A qualidade da água é, em muitos casos, um problema mais grave do que a quantidade A ironia é desoladora. A vila do Luso, que "dá de beber" a todo o País, está a ficar sem água e já recorre a formas alternativas para garantir que esta não falte em casa dos seus habitantes. A seca severa, instalada em 97% do território, secou furos, ribeiras, fez baixar o nível das albufeiras e ameaça secar as torneiras. Os municípios cortam nos excessos, gastam milhões no transporte de água e desdobram- -se em acções para evitar a ruptura. Mas a situação dramática não se apagará quando começar a chover. Passado o Verão, permanecerão os solos áridos, os recursos no limite e as dívidas dos agricultores e das autarquias. As pessoas serão forçadas a partir, agudizando o cenário de desertificação.A água ainda corre regularmente na maioria das redes municipais, mas as dificuldades e os esforços para assegurar o abastecimento são enormes e já afectam mais de 22 mil pessoas. Alentejo e Algarve são os mais atingidos, pois a falta de água é, em muitos casos, um problema antigo e estrutural. Mas o cenário de escassez estende--se a todo o País. A geografia do problema ajuda a ter uma percepção geral da realidade "Se lá em Lisboa já estão a cortar água na rega dos jardins, imagine como isto está", suspira, na pacatez da aldeia de Alpalhão, em Nisa, José Pires, comentando, ao cair da noite, as notícias que chegam pela televisão.Albufeiras com toneladas de peixe a morrer, furos e poços secos, fontes que sempre deram água e agora pingam míseras gotas, aquíferos com captações reduzidas para metade e uma qualidade que deixa muito a desejar e exige cautelas extraordinárias. O cenário é grave, admitem as autoridades que acordaram tarde para um problema que se começou a desenhar no ano passado e tenderá a repetir-se. As medidas excepcionais estão no terreno mas o Verão ainda mal começou. E uma coisa é certa mesmo que comece a chover no Outono, o problema persistirá e as feridas da seca levarão tempo a sarar. "As pessoas têm de se mentalizar que vão viver uma situação ainda mais difícil", desabafa Carlos Cabral, presidente da Câmara da Mealhada, concelho onde o problema já afecta 4530 pessoas.problemas. No Luso, as restrições advêm da redução da Fonte de São João, local que abastece as redondezas e onde chega gente de todo o lado para encher garrafões com a água que jorra nas onze bicas e cuja qualidade pode ser equiparada à engarrafada. "O caudal da fonte está a um terço do mínimo alguma vez registado", disse Carlos Cabral, acrescentando que as bicas já foram fechadas durante a noite.
Nas imediações da fonte, cartazes ditam que é permitido encher apenas dois garrafões. Mais do que poupar água, é uma tentativa de evitar o "triste espectáculo dos garrafões", que faz com que a espera para um copo de água se alongue porque outros enchem vários recipientes, explica Homero Serra, presidente da freguesia do Luso.
Mas a recomendação passa ao lado da maioria dos visitantes, que não se coíbem de encher dezenas de garrafões. "Ninguém liga ao placard", comenta em voz alta quem se dá ao luxo de nem comprar água engarrafada. Ao lado, três pessoas abastecem 26 garrafões, sob o olhar "incomodado" de outros. "As pessoas sabem que há seca, mas como a água ainda corre na torneira, não poupam", responde alguém. O futuro, reconhece o autarca local, não se perspectiva risonho. A produção de água engarrafada não deverá, contudo, ser afectada, pois é captada a grande profundidade.
Para a população idosa, "não há memória de uma situação assim". O desabafo é de Benedita, habitante há 78 anos da aldeia da Vacariça, na Mealhada, que remexe com a bengala que apoia o corpo curvado a 90 graus as folhas secas levadas pelo vento para o passeio. "As nascentes foram embora", exprime, com desalento, o rosto de rugas acentuadas e cabelos grisalhos que espreitam por detrás do lenço preto que envolve a cabeça. A água da Fonte de São João escorria para a ribeira, mas agora do Luso "não chega nem uma pinga".O tempo não é para ilusões, considera quem já passou por muito e não suporta ver os cinco terrenos cultivados com tanto sacrifício mirrarem à falta de água. "Quando lá vou, tenho logo que voltar. Fico doente com tanto desgosto", confessa, de olhar triste. Mas não resignado "Não tenho para mim, muito menos para vender. Mas não vou passar fome!" Ali perto, o cheiro a queimado e o céu nublado evidenciam a presença de outro inimigo devastador: o fogo que lavra há 24 horas em Penacova, deixando a população inquieta.A imagem de um país esmagado pela seca, que já passa nas televisões internacionais e impressiona o mundo, está a obrigar a medidas drásticas reduções na quantidade e pressão do abastecimento público, fortes limitações à rega, abertura de novas captações, encerramento de outras por razões de saúde pública. A realidade mais visível é o transporte de água em autotanques, processo que já faz parte do dia-a-dia de 39 municípios. As cisternas asseguram que o recurso nas torneiras não faltará. Transportam-no, depositando-o nos poços, furos ou reservatórios que depois o distribuem pela rede pública. Quem tem furos particulares e os vê secar tem agora de recorrer à água da rede, agravando as necessidades da mesma. Em Alpalhão, o intenso circular dos camiões demonstra isso mesmo. "Não fossem eles e a gente já não tinha água", exprime, com desalento, José Pires, sentado à porta da "Tasca do Papagaio" a ver cair a noite e com ela a chegada do autocarro expresso que traz os passageiros ao interior do Alentejo. O comentário suscita discussão acalorada entre os presentes, divididos entre o apoio às acções da câmara e o desagrado pelas medidas tomadas, como o encerramento de algumas fontes antigas, consideradas sem água potável. "Como vê, a falta de água só gera inimigos...", lamenta entristecido quando os vizinhos se afastam. gestão. A aparente normalidade - pois a água continua a correr nas torneiras - é assegurada com medidas excepcionais. "Temos um acordo com a Câmara de Portalegre e estamos a transportar água de lá com autotanques e a depositá-la diariamente nos reservatórios de Alpalhão e Tolosa", explica Maria Gabriela Tsukamoto, presidente da Câmara de Nisa. O processo custa à autarquia seis mil contos por mês, esforço financeiro insustentável a longo prazo.No concelho de Nisa, este não é um problema novo e todos os anos obriga a abastecer as populações. As aldeias do norte do concelho costumam ser ajudadas por autotanques em Junho, mas este Verão começou tudo mais cedo. Em Alpalhão, o problema agravou-se este ano, pois a aldeia deixou de receber água da barragem do Crato. Hoje há furos secos e é preciso enchê-los com água de Portalegre. Desde Maio que assim é.A operação começa cedo, pelas sete da manhã. Ivan, ucraniano em Portugal há vários anos, olhos claros e sorriso largo, conduz o ca-mião que descarrega 20 mil litros de água no poço de S. Gens, Tolosa. Aproveita os 40 minutos da descarga para descansar e fazer o ponto de situação do abastecimento com o técnico da câmara que hoje está no local. As palavras em português são pouco fluentes, mas o sorriso tímido e constante mostra a prontidão na ajuda. Nem meia hora, e outro camião chega para reforçar a nascente.A utilização de três lagoas situadas em antigas pedreiras poderá ser a solução pontual para os habitantes de Alpalhão e Tolosa a água está lá, precisa apenas de ser tratada. A autarquia está a tentar adquirir uma estação de tratamento amovível que permita fazer essa operação, disse João da Costa, vereador de Nisa. recursos. Dois pescadores lançam a cana na barragem do Sabugueiro, concelho de Arraiolos, acto normalmente interdito neste local. O drama da seca também se instalou aqui e os baixos níveis da albufeira levaram a câmara a abrir a pesca, de modo a poder salvar algumas carpas com os dias contados. Armando Oliveira, vereador da autarquia, mostra, desolado, o estado a que a barragem chegou e enuncia os esforços para garantir o abastecimento público.A abertura de dois novos furos, para além de outro cedido à aldeia por um particular, poderá colmatar a difícil situação, que tem recolhido a compreensão da população que reduziu o consumo. A utilização da água de fontes, imprópria para consumo, na rega é a solução adoptada por muitos. Com dois baldes enchidos numa fonte, um habitante prepara-se para regar a sua horta. O tempo é de contenção, reconhece Rogério do Carmo, dono de um café na aldeia. "Se não fossem os novos furos, já estávamos a receber água dos bombeiros...."Seca obriga câmaras a gastar milhões em abastecimento Cereais com quebras de mais de 70% Dívidas dos agricultores vão estender-se para lá do Verão Desertificação crescente ameaça solos e economia Em Alvor vai retirar-se o sal da água do mar