
Entrevista/PM: Sócrates recusa tratamento de favor... (ACTUALIZADA)
11 de Abril, 23:25
Lisboa, 11 Abr (Lusa) - O primeiro-ministro, José Sócrates, recusou hoje ter sido objecto de qualquer tratamento de favor no ano lectivo em que frequentou a Universidade Independente (UnI), quer no plano de estudos, quer no processo de equivalências.
Na entrevista conjunta à RTP e a RDP, conduzida pelos jornalistas José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedroso, Sócrates disse que a polémica em torno da suas habilitações literárias não perturbou as suas funções de primeiro-ministro e adiantou que apenas falou agora, depois de o Governo ter tomado uma decisão sobre o encerramento da UnI.
José Sócrates afirmou que frequentou a UnI porque este estabelecimento de ensino superior privado tinha "regime pós-laboral", porque quis ter uma licenciatura em engenharia civil e porque "essa universidade tinha prestígio na altura".
"Não mudei do ISEL para a UNI para ter mais facilidades" em terminar o curso, referiu.
Numa das questões mais polémicas levantadas nas últimas semanas - o processo de equivalências que obteve entre o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) e a Uni -, José Sócrates negou "a insinuação" de ter tido um tratamento de favor.
"É falso", respondeu, dizendo que, quando abandonou o ISEL, enviou um requerimento ao reitor da UNI, Luís Arouca, a pedir equivalências, tendo obtido resposta a 12 de Setembro de 1995, "quando era deputado da oposição" e não membro do primeiro Governo de Guterres. Na entrevista, o primeiro-ministro foi confrontado com o facto de o ISEL só ter passado o seu certificado de habilitações um ano depois do prazo, a 08 de Julho de 1996, quando já se encontrava a frequentar a UnI.
Sócrates respondeu que o plano de equivalências lhe foi passado pela UnI com base "na boa fé" da informação que prestou naquela instituição de ensino superior privado.
"O procedimento dessa universidade [UNI] é igual aos outros. As cadeiras que tinha feito no ISEL foram depois confirmadas pelo certificado de habilitações do instituto. Já chega disto", desabafou, ao fim de cerca de 20 minutos de entrevista.
"A UnI só passou o meu certificado de habilitações depois de o ISEL ter passado o meu certificado, que confirmou a informação que antes havia prestado a UnI", justificou.
Interrogado sobre as razões que explicam que as suas notas na UnI tenham saído num dia de Agosto de 1996, o primeiro-ministro reagiu dizendo que "um aluno não é responsável" por problemas de ordem administrativa.
"Não me compete explicar isso. Não fiz nenhum exame em Agosto. Entre o momento em que se fazem os exames e o momento em que as notas são lançadas, decorre sempre algum tempo", apontou, antes de insistir ser "abusivo culpar um aluno por eventuais erros administrativos".
Neste capítulo, o primeiro-ministro defendeu o prestígio à época da UnI - dizendo que foi auditada várias vezes até 1996 e nada de irregular lhe foi detectado - e reconheceu que só foi ver o seu dossier de aluno naquele estabelecimento de ensino superior "muito depois" da conclusão do seu curso de engenharia civil."Fiquei a saber das alegadas irregularidades no dossier de aluno pelos jornais", assegurou.
Interrogado sobre o professor que lhe deu inglês técnico, na UNI, Sócrates disse que foi o reitor da universidade, Luís Arouca.
"Conheci-o quando me veio comunicar que teria de fazer a cadeira de inglês técnico, além das outras quatro cadeiras do meu plano de estudos. Quando insinuam que fiz poucas cadeiras, digo que fiz aquelas que a UnI me propôs", advogou.
Ainda no ponto sobre as suas habilitações académicas, o primeiro-ministro sublinhou que, "para obter uma licenciatura em engenharia civil", fez "seis anos de ensino superior e 55 cadeiras".
"Fui avaliado por várias dezenas de professores", frisou, antes de dizer que frequentou as aulas em regime pós-laboral, embora admitindo que não tenha ido a todas.
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